UIRAPURU
UIRAPURU é uma peça inspirada nas entidades que habitam as florestas do Brasil e no imaginário mítico das matas brasileiras. A floresta como cosmologia particular - selvagem e encantada - e como regresso a um interior profundo e desconhecido. O Uirapuru é um pássaro brasileiro, considerado o “cantor da flroresta”. Uirapuru significa “homem-pássaro” ou “ave enfeitada” em Tupi-Guarani, uma das línguas dos povos originários do Brasil. Tem sua existência envolta em uma lenda indígena, a estória do encantamento de um dos amantes de um amor impossível, em uma ave rara, cujo canto fizesse os ouvintes delirarem.
O espetáculo UIRAPURU é uma dança de um gesto só, suspenso e insistente, uma dança hipnótica, que inscreve um rito e configura um território imaginário entre o pousar e o alçar voo.
A dramaturgia de UIRAPURU aposta na escuta desse pássaro raro, envolto de encantamento, cuja plumagem traz sorte, como uma promessa de aparição de uma brasilidade que insiste em vibrar.
A concepção de som foi pensada por Danilo Carvalho, artista de Parnaíba, que convidou Luis Carlos Garcia da cidade de Hidrolândia/Ceará, um músico e imitador de pássaros, para estar em cena junto com os bailarinos.
O espaço cênico do trabalho foi criado como um céu para a coreografia, formado por um comedouro de pássaros com frutas e legumes em um arranjo de madeiras que se equilibram em uma instabilidade flutuante. O figurino determina o corpo, reforçando o antagonismo entre céu e terra, entre voar e enraizar. A iluminação se dá através de uma escultura luminosa suspensa, um “Sol de Teresina” que faz amanhecer e anoitecer o espetáculo.
Ficha Técnica
UIRAPURU
Uma obra Demolition Incorporada
Concepção e Coreografia: Marcelo Evelin
Criação e Performance: Bruno Moreno, Fernanda Silva, Gui de Areia, Luis Carlos Garcia, Márcio Nonato, Rosângela Sulidade, Vanessa Nunes.
Dramaturgia: Carolina Mendonça
Assistência de criação: Bruno Moreno
Luz: Márcio Nonato
Som: Danilo Carvalho
Figurino: Gui de Areia
Direção técnica: Andrez Ghizze
Preparação e ensaio: Mariana Alves
Ilustração: Elza Hieramente
Foto, vídeo, gráfico: Maurício Pokemon
Produção de receptivo/Campo: João Marcos
Direção de Produção: Regina Veloso/Casa de Produção
Assessoria administrativo-financeira e de logística: Humilde Alves
Produção e Difusão: Sofia Matos/Materiais Diversos
Residências artísticas: CAMPO arte (Teresina/Brasil), Teatro Municipal do Porto – Teatro Campo Alegre (Porto/Portugal), La Vignette (Montpellier/France)
Co-produção: Teatro Municipal do Porto/Pt, Festival Montpellier Danse 202/Fr e Festival d’Automne à Paris/Fr.
Circulação
UIRAPURU
Estreia nacional
Teresina - Brasil
Dias 18 e 19 de maio, às 19 horas
Teatro do Dirceu
Estreia internacional
Porto - Portugal
Dias 03 e 04 de junho
Teatro Campo Alegre
Montpellier - França
Dias 19 e 20 de junho
Théâtre La Vignette/Montpellier Danse
Photos
Estúdio demolition Incorporada - Teresina -Brasil
Maio 2022
Photos by Maurício Pokemon
A DANÇA ANTROPOLÓGICA DO UIRAPURU
por Feliciano Bezerra
Os corpos em cena tecem uma rede de correspondências simbólicas, sejam elas no plano das possibilidades interpretativas quanto na própria movimentação rítmica dos códigos envolvidos. ativada pela célula gestual tensiva de dois passos para a esquerda e dois para a direita, com retroalimentação evolutiva por todo o espaço cênico, a cadência provoca rimas corporais internas, revelando a repetição como busca de sentido, a reiteração como força discursiva. a economia pendular dos corpos representa, metonimicamente, tipologias de danças encontradas no repertório cultural brasileiro, notadamente em gêneros populares e folguedos nordestinos e, principalmente, em passos ritualísticos dos povos originários do Brasil, dispondo assim a manifesta busca ancestral que o espetáculo enseja.
E é a partir dessa investigação em torno da ancestralidade que muito da cadeia semântica se realiza, a memória ancestral apresentada como futuro possível, vista sob a forma de uma espécie de tupinização da dança contemporânea, em que o corpo aparece como instância narrativa, a nos contar sobre a possibilidade de diálogo entre culturas e temporalidades. e é com essa investida de representação que o espetáculo pode nos fazer refletir sobre o modelo de desenvolvimento predatório aos povos indígenas, a pensar no marco temporal como denúncia, por exemplo.
Impulsionada pela lenda indígena do canto transformador do Uirapuru, enquanto malha mítica, a dança aponta para relações identitárias do Brasil, o autóctone nos é apresentado em confluência híbrida, e até na própria composição dos seis dançarinos há diversidade étnica, propositando o necessário debate da dessemelhança entre os corpos e o resultado social disso. A sonorização do espetáculo, como fundo descritivo, traz paisagem melódica ao som de aves representativas da fauna brasileira, e aqui a solução de trilha é surpreendente: ouvimos ao longo das cenas trinados variados percorrendo o fundo do palco, só ao final é revelado tal recurso, trata-se de um imitador de pássaros, uma experiência mimética que simboliza o quanto da relação entre natureza e cultura pode estar presente na contemporaneidade.
“Uirapuru” são tramas realizadas e inventivas no texto artístico da dança, no qual vemos corpos em dramaturgia para além do estrito coreográfico, estruturas gestuais geradoras de sentido... Trata-se do mais recente produto estético do coreógrafo Marcelo Evelin e seu experimental núcleo de criação Demolition Incorporada.
Teatro João Paulo II - Teresina - Brasil
18 Maio 2022
Photos by Maurício Pokemon