MONO é o estudo para uma instalação que parte da busca de um criador por outras formas de abordar e apresentar o Corpo no campo das Artes Performáticas. Propondo um deslocamento no ângulo de visão/percepção do performer e do espectador, investiga a possibilidade de uma reorganização das regras que regem o Corpo Performático, no sentido de “Ser e Estar” ao contrário de “Fazer e Mostrar”.
MONO focaliza o corpo como parte de um sistema de reprodutibilidade -‐ como série,
número ou réplica -‐ biológica e cultural. Três homens em situações e espaços distintos tendo
em comum o corpo exposto, destituído e constantemente alterado.
A ação constrói-‐se a partir de estados do Corpo dilatados pelo silêncio e a observação
minuciosa de si mesmo, na ocupação de um espaço reflexivo entre memória e imaginação.
Realizou apresentações em Teresina, Amsterdã, São Paulo, México, Uruguai, Rio de Janeiro, Ipatinga, Salvador, Lima, Quito, São Luis e Fortaleza.
Ficha técnica
::Concepção e Espaço Marcelo Evelin
::Criação e Performance Jacob Alves, Cipó Alvarenga e Marcelo Evelin
::Olhar Exterior:: Jellichje Reijnders e Vera Sala
::Fotografia:: Rogério Ortiz
::Produção:: Regina Veloso
::Realização: Marcelo Evelin/Demolition Inc. + Núcleo do Dirceu
Marcelo Evelin en el galpon.espacio
Sobre MONO
João Antonio
Ator, diretor, professor
A porta está aberta. Você pode entrar e sair quando quiser. Quando entra, se depara com um homem nu brincando com bonecos. Há poucas cadeiras. A maioria das pessoas senta-se no chão. Com movimentos lentos, o homem manipula os bonecos. Coloca-os em situações as mais diversas. Dançam, se reúnem, se empilham, transam, caem, observam. O homem replica, arremeda, copia, multiplica, reproduz. Um ser superior manipulando seres sem gênero, sem vontade própria, sem personalidade, sem individualidade? Um sacerdote realizando um ritual para que a humanidade volte a se relacionar? Um deus brincando com suas criaturas?
O público observa. A dinâmica dos gestos leva à meditação, à concentração, à participação sem interveniência. O ser/sacerdote/deus continua, ininterruptamente, a criar situações e a participar delas. O tempo se alonga. Algumas pessoas começam a se incomodar, a se mover, a mudar de posição. Outras, constrangidas em sair, foram ficando até serem avisadas que o trabalho havia terminado. Marcelo Evelin continuou com sua instalação/performance mesmo depois que os observadores abandonaram o espaço. O trabalho, na verdade, continua “ad infinitum”.
O público pareceu não ter se dado conta de que cada um deveria ter ficado durante o tempo que sua concentração e prazer lhe permitisse. A porta, como foi avisado desde o início, estava aberta. Assim, sem cansaço, poderiam ter curtido mais a performance meticulosa, precisa e profunda do artista.
“Mono” dilata tempo de observação e transforma espectador em voyeur
Sérgio Maggio
Jornalista, escritor, diretor.
Antes de entrar na Galeria Athos Bulcão, o curador e produtor da Mostra XYZ, Marconi Valadares, informa que, no espetáculo “Mono” (PI), excepcionalmente, as portas estarão abertas para que o espectador possa sair no momento em que quiser. Em cena, está Marcelo Evelin, envolto por algumas dezenas de bonecos infantis, todos nus e dispostos em situações que criam uma cartografia cheia de sentidos. Alguns enfileirados e de pernas rasgando o ar como as sensuais vedetes do teatro de revista. Outros em duplas em situações de aproximações e intimidades. Muitos conectados entre si, suscitando bacanais festivos.
Não há muitas cadeiras confortáveis para vê-los. O espectador senta-se ao chão, encosta-se na parede e se põe como observador em tempo real para testemunhar o desenrolar da instalação de Marcelo Evelin. O tempo cênico é dilatado e, o silêncio funciona como um importante elemento estético. Aos poucos, a figura nua e forte do coreografo e intérprete começa a se neutralizar diante da disposição espacial de sentidos, que ele constrói em tempo real. Há também uma destituição de significado dos bonecos, não mais vistos como bebês infantis. São corpo nus.
Com velocidade e movimentos constantes, Marcelo Evelin descola-se por um território onde cria um forte âmbito de erotismo e liberdade para os corpos. De quando em quando, conecta-se ao movimento sugerido pelos bonecos. A expectativa do espectador é sentida e alimenta parte do jogo. A essa altura, não se pode falar de recepção diante da instalação. A sensação é de que o espectador virou um voyeur. É como se estivéssemos numa cabine oculta onde a gente pode ver tudo que ocorre do outro lado e, os partícipes dos jogos propostos por Marcelo Evelin não nos visse.
Nesse sentido, a instalação promove uma potência na recepção. Não se sabe o nível de reflexão geral já que cada um, no tempo, no silêncio e no espaço proposto por Marcelo Evelin formula as percepções. Nesse sentido, testa-se também a resistência física do público. É possível sair antes que as costas reclamem e a dor física não embace momentos de nítida emoção, proposto por uma instalação que evoca a vida, quebra os limites das regras e põe o tempo como um deus em cena.